StarAce – Real (resenha do álbum)

Sabe aquela máxima de não julgar o disco pela arte da capa? O novo álbum da StarAce é um exemplo claro disso. Apesar da arte de Real trazer um humanóide esculpindo “nossos pensamentos” — uma metáfora direta à faixa-título —, a imagem não traduz o som: trata-se de um trabalho de heartland rock com sotaque country-western, atitude blues-rock e espaço para uma balada emocional.

A StarAce é uma banda paulistana que canta em inglês, formada pelos irmãos Júlio (voz e guitarra), Luiz (baixo) e Thomaz Starace (bateria) — e sim, Starace é sobrenome, não apelido, como nos Ramones. O trio se uniu aos músicos Chris Dias (guitarra) e Bia Tucci (teclado) durante a pandemia para consolidar o grupo, que agora lança seu álbum de estreia.

A produção ficou a cargo de David Frangioni, veterano de estúdio que já trabalhou com Aerosmith, KISS e Ringo Starr, entre outros. O resultado é um som polido, mas com a sujeira necessária para manter a autenticidade do gênero.

As influências aparecem sem disfarces. “My America” é Tom Petty até a medula; “Breakout to Mars” e “Another Day Gone Day” são puro espírito de festa; “Darkside” e “Fighting My Shadow” evocam o swamp rock do Dire Straits quase como uma homenagem. “One More Night in Nashville” mistura soul e peso, enquanto a balada country “Thousand Ways” revela delicadeza e melodia. Já “Blue Water” remete diretamente ao Eric Clapton dos anos 1980. Ainda assim, todas as faixas carregam uma assinatura própria — a identidade StarAce.

O grande acerto do disco é “When the Light Has Gone”, faixa com pegada indie que mantém o pé no heartland rock e vem ganhando destaque nas rádios brasileiras.

Nas letras, a banda transita entre o amor, a América e a crítica social. Logo na abertura, “Right in the Middle”, Júlio dispara: “Políticos e CEOs estão armando seus planos no meio da noite, mas as sementes do rock estão aqui para mostrar o que é certo.” Sua voz afiada e marcante guia o disco com convicção.

A escolha de compor e cantar em inglês soa natural e coerente com a proposta estética da banda — mais do que uma aposta em carreira internacional, é uma decisão artística acertada.

Assisti a um show da StarAce com todas as faixas do álbum. No palco, o grupo entrega energia e presença, transformando as músicas em verdadeiros hinos de arenaReal é uma estreia sólida, inspirada e com potencial para conquistar tanto os fãs do rock clássico quanto os que buscam novas vozes nesse estilo.

Leia a matéria original